Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
O destino do Brasil, por muitos anos, estará sendo decidido nas eleições que se aproximam.
MuitÃssimos eleitores, no entanto, desinformados sobre os reais interesses que estão em jogo,
correm o risco de fazer escolhas sem conhecerem suficientemente e analisarem criticamente os
candidatos, seus partidos, quem os financia e seus projetos.
Muitos candidatos vendem uma imagem que não corresponde à sua identidade real, à função que
postulam e ao tipo de gestão que a nação necessita. Para muitos deles, o processo eleitoral se reduz
ao marketing.
O debate com a participação direta dos eleitores é raro. Até mesmo grande parte de
comunidades cristãs se omite dessa responsabilidade.
São escandalosas as posturas alienadas de muitos cristãos e as adesões a um candidato Ã
presidência que dissemina violência, ódio, racismo, homofobia e preconceito contra mulheres e
pobres. Ele utiliza falsamente as temáticas do aborto, gênero, famÃlia e ética; faz apologia à tortura,
à pena de morte e ao armamentismo; e é réu por injúria e incitação ao crime de estupro.
Ele e outros candidatos usam o “nome de Deus em vãoâ€, o que é censurado na Sagrada Escritura,
conforme o Livro do Êxodo 20,7. Manipulam a religião. Não amam a justiça.
O livro da Sabedoria os
adverte: “Haverá investigação sobre os projetos do injusto, o rumor das palavras dele chegará até
o Senhor e seus crimes ficarão comprovados†(Sb 1,9).
Frente a esse contexto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou uma cartilha
sobre as eleições, na qual manifesta preocupação com as polarizações que culminam em ódio. Por
meio dessa cartilha, a CNBB chama a atenção para a importância da convivência democrática, do
respeito ao próximo, do pluralismo sadio e do debate polÃtico sereno.
“A polarização de posições ideológicas, em clima fortemente emocional, gera a perda de
objetividade e pode levar a divisões e violências que ameaçam a paz socialâ€, diz a CNBB nessa
cartilha. Guiando-se por ela, a Diocese de Jales lançou um folheto que conclama os eleitores a “uma
participação mais consciente e responsável nas eleiçõesâ€.
Esse folheto apresenta critérios para a escolha de bons candidatos, afirmando que os bons polÃticos
são conhecidos especialmente por seus compromissos com a classe trabalhadora. Votar, então, em
quem? Em quem “possui histórico de ações em favor dos mais necessitados: crianças, adolescentes,
jovens, trabalhadores, idosos, sem teto e desempregadosâ€.
Se o candidato postula a reeleição, que o eleitor tome em consideração como ele se posicionou nas
reformas dos dois últimos anos, que prejudicaram a classe trabalhadora.
O critério do candidato ser
do municÃpio ou da região não é prioritário. O eleitor deve conhecer bem seu histórico de vida e seu
programa de trabalho, e ver se tem lutado em favor dos trabalhadores e do bem comum.
Reconheçamos a importância do debate respeitoso sobre esse assunto em todos os ambientes,
especialmente nas comunidades cristãs, afinal Cristo nos confia a vida em sociedade, afirmando que
seus seguidores devem ser “sal da terra e luz do mundo†(cf. Mt 5,13-16). Ele mesmo atribui
prioridade a essa missão, dizendo: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça†(Mt 6,33).
O destino saudável do Brasil depende de nossa opção em defesa do que é verdadeiramente justo.
Saibamos, então, fazer escolhas lúcidas nesta eleição, entendendo que estão em jogo, basicamente,
dois projetos: um deles é da classe trabalhadora, em favor do bem comum. Se fizermos outra
escolha sofreremos ainda mais.
Por isso, estejamos atentos! Deus nos responsabiliza.
Jales, 19 de setembro de 2018.