Por
Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
O
Brasil que chegou a ser sexta economia mundial, retrocedeu para a
nona posição. Mesmo assim sua economia é potente, mas controlada
por grandes grupos econômicos transnacionais, com predomÃnio do
setor financeiro.
É
coerente, então, afirmar que é um paÃs democrático, estando
submetido a um modelo econômico concentrador de riquezas e gerador
de miséria? A corrupção do setor público, apontada como um dos
grandes problemas do paÃs, está relacionada à corrupção endêmica
no setor privado. Quanto maior é a empresa, maior é seu lucro,
geralmente utilizado em benefÃcio de poucos e, à s vezes, em função
de grupos polÃticos predispostos a gerir a vida pública em favor de
interesses privados e em detrimento do bem comum.
A
corrupção no Brasil sempre existiu, sendo mais notória nos últimos
anos graças às denúncias e investigações possibilitadas por
avanços democráticos. Quanto mais, então, a democracia progride,
mais ajuda a superar a cultura da corrupção e outros males
relacionados. Por isso, devemos visualizar novos passos para que
nossa democracia, hoje, ameaçada, avance ainda mais. Nesse sentido,
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em
Assembleia Geral, neste mês de abril, emitiu uma mensagem sobre as
eleições deste ano, dizendo que “a atual situação do paÃs
exige discernimento e compromisso de todos os cidadãos, das
instituições e organizações que protagonizam a construção do
bem comum e da justiçaâ€.
Diante
do contexto difÃcil em que vivemos, a CNBB aponta à população
brasileira o desafio e a oportunidade de crescimento. Este momento é
oportuno, por exemplo, para compreendermos que eleições são
importantes, mas são insuficientes, sobretudo quando são
influenciadas por poderosos grupos econômicos, respaldados por
poderosos meios de comunicação. Essa influência coloca em questão
o suposto caráter democrático do processo eleitoral atual e
demonstra que a democracia exclusivamente eleitoral é muito
limitada. Ademais, qualquer que seja o resultado das eleições, o
assédio e a pressão desses poderosos grupos econômicos e
midiáticos aos gestores públicos, continuarão condicionando a
forma de se governar. Caso esses grupos não consigam influenciar os
gestores públicos, procurarão desmoralizá-los, como se tornou
praxe, para impedir o exercÃcio de suas funções.
A
democracia necessita, então, avançar na direção de um Estado
independente dessas ingerências e de um modelo econômico também
democrático. Afinal, a democracia polÃtica depende e está em
função da democracia econômica. Necessitamos, então, avançar na
direção de um projeto comum de sociedade que assegure direitos
iguais a todos, conforme prevê a própria Constituição Federal, no
capÃtulo 1, artigo 5º, dizendo que “todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer naturezaâ€. Que esse princÃpio
ético e legal nos sirva de guia para a construção progressiva de
uma verdadeira democracia!
Jales,
19 de abril de 2018.