Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
Tudo no mundo tem se tornado objeto mercantil. Isso não é de hoje. Até mesmo Cristo foi vendido
por trinta moedas de prata. O povo trabalhador sofre a mesma violenta utilização. Sua força de
trabalho é comprada por critérios de mercado. Obrigado a vendê-la, caso consiga emprego, por um
preço irrisório, termina crucificado muito antes do final do mês, sobretudo se não resiste à tentação
da propaganda consumista e do crédito supostamente brando.
A consciência desse pecado é de poucos. Muitos preferem “lavar as mãos”, como Pilatos, ou se
aliarem aos violentos como fizeram com Barrabás, optando por crucificar o Filho de Deus que veio
ao mundo para a paz. Conforme descrito no evangelho, o povo gritou “crucifica-o!”, por
manipulação das elites (cf. Mt 27,20). As elites de hoje fazem igual manipulação, crucificando quem
defende direitos da classe trabalhadora e dos demais setores socialmente excluídos.
A violência cometida contra o Filho de Deus é a mesma violência cometida contra os filhos de Deus
que trabalham para o bem social. A violência, por exemplo, ideológica, contra as pessoas de bem,
que circula nas redes sociais, preocupa a Igreja. Por isso, no Dia Mundial das Comunicações Sociais
de 2016, o Papa Francisco já dizia que "as redes sociais podem facilitar as relações e promover o
bem da sociedade, mas também aumentar a polarização e divisão entre indivíduos e grupos".
Essas e outras violências nos fazem pensar sobre o sentido da Páscoa, hoje. A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, celebrada na Páscoa, é a vitória que Ele nos concede, tornando-nos fermento de bondade e de paz onde a maldade e a violência se impõem. Ele testemunhou a misericórdia sobretudo no seu “sacrifício” e espalhou o perdão até mesmo no seu martírio. Do nada ao qual foi reduzido emergiu para a vida, concedendo-nos a possibilidade de um igual destino. Por isso, Cristo é nossa Páscoa. Nela, festejamos a vitória do autor da vida, alegrando-nos porque, por meio dEle, toda a criação se refaz. Com Ele renascemos para o totalmente novo.
Em Cristo Ressuscitado, nosso antigo modo de viver deixa de existir: a indiferença cede espaço à amizade; o desamor é absorvido pela ternura; o egoísmo é substituído pela solidariedade; a corrupção dá lugar à honestidade; a injustiça é suplantada pela equidade; o ódio se transforma em paz.
Em Cristo, a violência é superada, pois Ele é nossa paz (cf. Ef 2,14). A Campanha da Fraternidade
deste ano, que propõe a “superação da violência” sob o lema “Vós sois todos irmãos! (Mt 23,8), nos
apontou uma importante linha de ação para que a paz, entendida como plenitude de condições de
vida, possa efetivar-se em nossa convivência social: uma “Rede de Ações”, sempre crescente, entre
comunidades e entidades que trabalham pelo bem social.
Que esse desafio seja assumido por todas as comunidades, unificando esforços com todas as
entidades que entendem a necessidade urgente de construirmos juntos um projeto comum de vida
em sociedade, com ampla participação cidadã. Afinal, a paz tão almejada por todos os cristãos e
pessoas de boa vontade se tornará realidade se agirmos em comunhão. Cristo está vivo entre nós,
desfazendo os muros que nos separam. Vivamos e atuemos, então, em fraternidade!
Jales, 28 de março de 2018.