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Lutar pela vida plena


Por Dom Reginaldo Andrietta

Nosso calendário civil está por finalizar-se. Ao planejarmos 2019 não esqueçamos de comemorações importantes, pouco valorizadas, tais como o “Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos”, em 3 de dezembro. O fato desse “Dia” ser pouco conhecido até mesmo por muitos que dizem defender a vida na integralidade, comprova a anestesia de nossa consciência coletiva. Combatemos as drogas, o aborto e os homicídios. Devemos, no entanto, aceitar que nos matem com venenos?

O documentário “O veneno está na mesa”, com dois vídeos de fácil acesso pela internet, demonstra os efeitos nocivos dos agrotóxicos, particularmente no Brasil, um dos países que mais os utiliza. Muitos “defensivos agrícolas” possuem toxicidade aguda, comprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vinculada ao Ministério da Saúde. Eles causam mutação genética, má formação fetal, câncer, problemas neurológicos e hormonais, e outros males.

No Brasil, uma lei de 1989 regulamentou o uso dos agrotóxicos, controlando-os. No entanto, o Projeto de Lei 6299/02, conhecido como “PL do Veneno”, que tramita, atualmente, na Câmara Federal, visa afrouxar esse controle. Organizações ambientalistas dizem que a eliminação do poder de veto de agências reguladoras, prevista no projeto, favoreceria uma produção agroquímica mais ainda nociva e a entrada no país de agrotóxicos mais ainda perigosos.

O executivo federal eleito, aliado aos grandes poderes econômicos do agronegócio, tem se mostrado favorável à flexibilização embutida no “PL do Veneno”, sinalizando que continuará concedendo incentivos fiscais à produção e à comercialização de agroquímicos, dominadas por oligopólios transnacionais, entre os quais a Bayer, alemã, e a Monsanto, americana, fusionadas este ano. Essas e outras empresas têm sido condenadas pela justiça em outros países.

O Estado brasileiro continuará favorecendo os interesses dessas empresas, protegendo o que produzem e comercializam de maléfico, tolhendo, no entanto, as iniciativas agroecológicas de pequenos e médios produtores rurais? Essa questão é ainda mais pertinente pelo fato do Projeto de Lei 4576/16, que também tramita na Câmara Federal, estipular restrições à venda de produtos orgânicos em supermercados e em programas públicos para alimentação escolar.

Nossa soberania alimentar e a qualidade dos alimentos que colocamos em nossas mesas e fornecemos ao mundo, devem, por isso, ser colocadas em questão. Senão, seremos aéticos. Os altos índices de doenças crônicas e mortes causadas por agrotóxicos, aos trabalhadores rurais e à população urbana que depende do que é produzido no campo, bem como a destruição da biodiversidade, são horrores que colocam em questão nosso sistema coletivo de vida.

A instrumentalização da ciência em função de interesses econômicos desprovidos de ética, a exemplo da produção e da comercialização abusivas de agrotóxicos, revela a desconexão do ser humano com o autor da vida. A esse respeito o Papa Francisco aponta na Encíclica Laudato Si, uma exigência ético-espiritual. Para ele, ser “guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”.

Estaremos dispostos a traduzir essa exigência ético-espiritual em ações que defendam integralmente a vida, convertendo corações e mudando decisões governamentais nocivas à saúde? Quais iniciativas, portanto, nós, cristãos, tomaremos em conjunto com os movimentos sociais que lutam em prol da agricultura sustentável ecologicamente, como testemunho de nossa fé em Cristo, que veio ao mundo (cf. Jo 10,10) para que todos tenham vida em plenitude?

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