Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, cerca de 147 milhões de eleitores deverão ir às urnas este
ano, para eleger presidente da república, senadores, governadores, deputados federais, estaduais
e do Distrito Federal. Essa “Romaria à s urnasâ€, na qual muitos dizem que não participarão por não
acreditarem nos “milagres prometidos†pelos candidatos e partidos, é, no entanto, de grande
importância, especialmente para a classe trabalhadora.
As decisões do governo federal estão sendo catastróficas para a classe trabalhadora. Por isso,
quanto mais os trabalhadores e trabalhadoras participarem na vida polÃtica, mais as elites
econômicas serão extirpadas de espaços institucionais que legitimam suas polÃticas antissociais.
Essas elites, aliadas ao capital internacional, querem um Estado forte a seu favor, dirigido por
polÃticos mancomunados, subservientes e fáceis de serem manipulados.
A polÃtica, que na antiguidade grega era tida como virtude, tem sido estigmatizada para que o
povo trabalhador se aparte dela e as elites se tornem beneficiadas. Por isso, os meios de
comunicação, em mãos dessas elites, disseminam a ideia de que polÃtica é coisa suja. Sua
descredibilização ostensiva tem gerado aversão popular à vida pública e até mesmo preconceito
ao termo polÃtica, sobretudo em ambientes religiosos conservadores.
O Papa Francisco, ao falar sobre a necessidade de “reabilitar a dignidade da polÃticaâ€, na sua
mensagem aos polÃticos católicos reunidos em um encontro continental, na Colômbia, em
dezembro de 2017, ressalta a importância dessa “nobre forma de caridade†e de “polÃticos que
anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos
grandes poderes financeiros e midiáticosâ€.
“Não podemos nos resignar à situação deteriorada na qual nos debatemosâ€, diz o Papa nessa
mensagem. Por isso, a Igreja incentiva sobretudo os cristãos leigos e leigas a assumirem sua
missão “no mundo vasto e complicado da polÃtica, da realidade social e da economia†conforme
indica a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), do ConcÃlio Vaticano II. Como
essa missão deve ser assumida no Brasil atual?
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em sua mensagem sobre as eleições, em abril deste
ano, propõe identificarmos claramente os interesses subjacentes a cada candidatura, ressaltando
que “não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca
o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e
defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade.â€
Os próprios pobres devem, então, saber escolher candidatos comprometidos com a classe
trabalhadora.
O tempo da confiança cega, no entanto, acabou. O tempo, agora, é de participação
organizada e de luta permanente. Esse é um dos recados da 34ª. Romaria Diocesana de Jales,
ocorrida no último dia 19 de agosto.
O recado da 31ª. Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras
que ocorrerá em Aparecida, no próximo dia 7 de setembro, será assim, igualmente.
Seu lema o comprova: “O povo trabalhador, com esperança, fé e ação, derruba o sistema de
maldade e exploraçãoâ€.
O 24º Grito dos ExcluÃdos e ExcluÃdas, promovido também pela Igreja
Católica no Brasil, se somará a essa Romaria, nesse dia. Esse “Gritoâ€, inspirado no lema
“Desigualdade gera violência: basta de privilégiosâ€, deverá ecoar em todo o paÃs, em favor de uma
nação independente e diferente.
Que seja, então, um “Grito†de toda a nossa gente!
Jales, 22 de agosto de 2018