Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales
Estamos vivendo no Brasil, um tempo de profundas insatisfações populares com relação à realidade econômica, social e polÃtica. Só não reclamam os que estão lucrando como nunca antes: os banqueiros, os grandes empresários, os que ganham salários altÃssimos no serviço público e privado, e os que se enriquecem de maneira desonesta.
O clamor de nosso povo, no entanto, se não está engasgado na garganta, está evidenciado nas manifestações de muitÃssimos setores sociais. Manifestações populares pacÃficas são sinais de vitalidade democrática, pois o regime democrático se define pelo poder soberano do povo.
Evidentemente, a democracia não se resume à possibilidade de manifestações livres e não se esgota em eleições, pois elas podem ser manipuladas pelos detentores de poder, a exemplo, de manifestações em favor de um regime militar ou de candidatos que enaltecem a ditadura. Estas são, no mÃnimo, contraditórias.
Diferentemente, porém, as manifestações cÃvicas espalhadas por nosso paÃs, que defendem a ordem democrática e a justiça social, são muito necessárias. Afinal, a consigna oficial do Brasil, “ordem e progressoâ€, só será real, conforme diz nosso Hino Nacional, se os filhos e filhas desta nação não fugirem da luta pela justiça. Saibamos, portanto, valorizar todas as manifestações em favor do que é justo e democrático, inclusive as de caráter religioso, sem discriminações.
Aliás, nosso povo é profundamente religioso. Ao realizar, por exemplo, uma Romaria, apresenta súplicas a Deus em favor de necessidades que deveriam ser atendidas por gestores econômicos e polÃticos. Muitos pedem a Deus uma oportunidade de emprego.
Os detentores de poderes econômicos, no entanto, estão “pouco se lixando†com a grande massa de desempregados.
Importa-lhes o resultado de seus investimentos financeiros, que nutrem candidaturas polÃticas. Jales, que se tornou notÃcia nacional nos últimos dias pela “Farra no Tesouro†em sua Prefeitura Municipal, deve se orgulhar, no entanto, por acolher nestes dias de profunda crise ética na gestão
pública, o Simpósio “O Combate à Corrupção nos 30 anos da Constituição Federalâ€, e a 34ª. Romaria Diocesana.
Essa Romaria popular multitudinária, inspirou-se no ano passado, no tema das escravidões atuais, referindo-se aos graves problemas sociais que massacram nosso povo.
Neste ano, essa Romaria inspira-se na missão que Cristo confiou a seus discÃpulos de serem “sal da terra e luz do mundoâ€, ressaltando a responsabilidade, sobretudo dos cristãos leigos e leigas, na superação desses problemas sociais. Essa manifestação de fé popular tem, portanto, um perfil conscientizador. Quem ainda pensa que religião é ópio do povo se equivoca.
Nossa fé cristã é libertadora e humanizadora. Nossa Romaria é, portanto, mobilizadora em defesa da vida.
Basta de violência! Esse “grito†da Campanha da Fraternidade deste ano, ecoa também nesta Romaria. Por meio dela nos comprometemos na defesa integral da vida desde a concepção. A vida do nascituro e de todos os que sofrem na miséria, no abandono e em todas as formas de escravidão, é sagrada. Sagrada, portanto, é nossa Romaria, pela qual nos manifestamos nesta Semana Nacional da FamÃlia, unidos em Cristo, em louvor a Maria, a favor de uma verdadeira democracia.
Jales, 15 de agosto de 2018.