Imprimir Falso moralismo: perseguir o que não tem importância, deixar o que interessa. - Cidadania e Reflexão - Um Espaço de Reflexão para a Cidadania

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Falso moralismo: perseguir o que não tem importância, deixar o que interessa.
Sobre o falso moralismo de cunho religioso:  Convido o leitor a desenvolver comigo um raciocínio sobre a ética e o moralismo de nossos tempos. Vou tentar desenvolver aqui uma rápida reflexão fora do senso comum, na busca do início de uma reflexão mais aprofundada do que a existente (ou inexistente) no discurso comum de nossa sociedade. Tomo como exemplo, um fato recente, onde vimos a polêmica enorme gerada pela exibição de uma cena de beijo entre um casal de mulheres na televisão. Pessoas protestaram, alegando que isto "ofende"; outros, ainda defenderam que esta cena não poderia ser exibida porque "estimula as pessoas a serem gays" e "destroi a família". Quero fazer algumas considerações sobre este assunto, propondo algumas questões e convidando o leitor a analisa-las, calmamente e sob uma óptica mais abrangente do que aquela do senso comum. Vamos comparar a cena da tele-dramaturgia com o que acontece na vida real. Na vida real, temos programas de televisão mostrando a violência crua em horário nobre. Temos apresentadores de televisão falando abertamente contra os direitos humanos (sempre com relação aos outros), deseducando a população, que absorve este discurso, sem perceber que assim acaba apoiando a perda de seus próprios direitos, sem ao menos entender o que significa a defesa dos direitos humanos. Temos também a exibição de cenas brutais de acidentes e assassinatos que são distribuídas, livremente, pela própria população, através de internet e pelo Whatsapp; algumas destas cenas, mostram até acidentes e detalhes com dilacerações e vísceras de pessoas expostas. Realmente chocante. Muitas pessoas as assistem por mera curiosidade, acabando por fim a absorverem isto como uma coisa natural e banal, mas uma vez sem questionar se realmente é necessária a veiculação de tais conteúdos. Não é comum ver um cristão protestar contra estes conteúdos veiculados; digo até que seria bastante incomum se isto viesse a acontecer. Talvez porque vemos isto com certa naturalidade e justifiquemos isto dentro do livre arbítrio das pessoas; Até crianças tem tido acesso a estes materiais e ideologias extremamente danosas para elas e para a sociedade, pois dependendo de onde vem, são aceitas como naturais. "Se o apresentador tal falou, deve ser porque ele tem razão". Da mesma forma, é incomum vermos cristãos protestarem, por exemplo, em seu bairro, em sua cidade, contra pontos de venda de drogas, gangues ou mesmo a miséria das classes sociais menos favorecidas ou esquecidas. Talvez não ocorra porque enfrentar tais problemas signifiquem certo risco, que ninguém quer correr. Existem exceções, claro, mas estamos aqui falando e analisando o comportamento mais comum das pessoas. Talvez isto aconteça porque nós, cristãos, julguemos não serem estes problemas sociais nossos; talvez porque sejam problemas "para o estado resolverâ€. Ainda temos, na televisão, heróis de seriados que matam como que praticando um gesto natural que é até considerado elogiável dentro das tramas ficcionais; do outro lado, do lado da realidade, entretanto, gente morre de fome na Ãfrica a cada minuto, também com poucos ou sem nenhum protesto ou indignação manifestados. Recentemente ficaram famosas fotos de garotinhos africanos que esperavam animais urinarem para poder beber um pouco de "água", a única disponível em sua localidade. Urina abençoada, muito bem vinda como esperança de sobrevivência. Para aqueles garotinhos, a preocupação necessária era sobre a hora em que os animais viriam a urinar novamente. Não me recordo de nenhum cristão que tenha se indignado e protestado contra isto e, se houve quem o fizesse, certamente foram poucos, afinal isto aconteceu em um país pobre da Ãfrica, fora de nosso alcance e talvez não caiba a nós interferir, pois não temos culpa neste caso. Quero perguntar, em face destas considertações: teríamos então, diante da observação da realidade, dois pesos e duas medidas? Estaríamos exercendo uma moral falsa, que não corresponde a realidade dos fatos? Ou estaríamos simplesmente acomodados, reagindo somente contra aquilo que consideramos insano, de nosso ponto de vista exclusivista, em um mundo reduzido a nossa confortável sala de TV? Seria nosso mundo, um ambiente que não deve ser perturbado, porque é o ambiente da família? Então porque a violência contra pessoas e preconceitos entram no mesmo com imensa facilidade e naturalidade? Enquanto uma cena de tele-dramaturgia é capaz de até mesmo suscitar um boicote a uma empresa de TV, a fome, a morte violenta, a falta de solidariedade, a desigualdade social, a discriminação conta seres humanos, a falta de respeito ao próximo, não provocam equivalentes reações em nós, cristãos, pois parecem serem aceitas como coisas naturais. Estaríamos nos pautando por causas falsas, enquanto esquecemos as verdadeiras? Temos um mundo real, com problemas reais a serem enfrentados, que exigem a prática de uma ética relacionada a uma moral verdadeira, que tenha apenas um peso e uma medida - que é a moral da solidariedade - que poucos estão dispostos a exercer. Quanto a moral vigente, não estaria na hora de reavalia-la, sob a luz do próprio Cristo, que é o esclarecimento, no sentido de nos tornarmos mais solidários e mais adaptados a realidade? Estas perguntas ficam em aberto, sem a pretenção de serem respondidas aqui com alguma verdade pronta para consumo imediato. Para quem medita e busca um mundo melhor, é necessário um certo esforço de compreensão. Estas perguntas não podem ser respondidas com raciocínios simplistas, com sentenças prontas, adquiridas de outrem, normalmente preconceituosas (preconceitos são idéias adquiridas prontas), que não exigem esforços mentais, como normalmente gostamos comodamente de receber. Raciocínios prontos sempre trazem uma aparente solução, rápida, simples e confortável, politicamente correta, talvez em nosso meio, mas com o tempo demonstram sua falsidade, vindo novamente a serem questionados. Assim também questionava Jesus sobre a hipocrisia dos fariseus. A busca do aprimoramento cristão exige estudo e reflexão, exige sair de nossa zona de conforto, deve ser buscado sem nunca perder de vista que Cristo pregou primeiramente e basicamente o amor ao próximo e não deve ser buscada na lei antiga, que é um conjunto de regras frias, que matam, pois acabam por final em segregar pessoas que nós “julgamos†menos “merecedoras†da salvação ou da vida. Apesar de soar doloroso às nossas mentes quando ouvimos isto, a vida ou a salvação é dada pela graça de Deus, não pelo mérito pretendido. O amor verdadeiro ao próximo tem sido assim negligenciado, porque as pessoas seguem um conjunto de regras que não são questionadas em suas bases de formulação; estão sempre prontas a julgar sem conhecer; falta uma cultura cristã mais aprimorada onde seja valorizado o "estar na luz", que significa conhecimento e esclarecimento. A bíblia diz "um povo que jazia nas trevas, de repente viu uma grande luz" - esta luz nçao significa uma personalização, mas sim o próprio esclarecimento. Para que isto seja colocado em prática, hoje temos conhecimentos em todas as áreas da ciência, que são indispensáveis no auxílio ao entendimento correto das próprias escrituras sagradas, como a história, a geografia, o estudo dos idiomas, a sociologia, a filosofia, a psicologia, a interpretação de textos e até as ciências biológicas, pois nada existe destacado da realidade, nem mesmo as sagradas escrituras. O aprendizado sobre estes conhecimentos e a reflexão constante podem nos fazer pessoas melhores do que hoje somos, para podermos então, finalmente, sem condenar ou errar, falar “Em Nome de Jesusâ€.


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